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Liberdade ou livre- arbítrio?

  • Foto do escritor: Simmetria Psicologia & Recursos Humanos
    Simmetria Psicologia & Recursos Humanos
  • 5 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura




O que nos leva a fazer nossas escolhas? Somos livres para escolher todas as facetas de nossas vidas? A temática do livre-arbítrio é complexa, e não é de hoje que há essa complexidade. Há algumas linhas de pensamento sobre o quanto somos realmente livres em nossas escolhas. Uma delas diz que tudo o que fazemos é pré determinado por algo, dessa forma, as escolhas que fazemos já estava determinada da mesma forma como já e determinado que o sol nasça dia após dia. Mas se todas as nossas escolhas são pré determinadas, como é possível sermos responsabilizados por elas, uma vez que nenhuma de nossas atitudes foi realmente escolhida por nós? Acabamos por nos tornar vítimas de algo que escolhe em nosso lugar sem termos o direito de sequer pensarmos sobre as possibilidades – na realidade, não há outras possibilidades. Algumas pessoas atribuem esse fenômeno ao destino, fenômeno presente e condutor de vários mitos que podemos ver como base do pensamento de nossa sociedade. Como o mito de Édipo – onde Édipo tenta fugir de seu destino, mas acaba sendo encontrado por ele – o destino aparece como o todo-poderoso, impiedoso que não pode ser passado para traz. Cabe ao destino ser o fenômeno que se contrapõe inteiramente ao pensamento do livre-arbítrio.

Mas se passarmos para o outro extremo da história, e nada for determinado? Se for assim, nossas escolhas são obra do acaso, não há gatilhos, não há motivações, as possibilidades de escolha simplesmente possuem a mesma chance de serem escolhidas. Não há gostar mais ou menos de algo, uma vez que as escolhas são simplesmente feitas ao acaso. Como em um jogo de cartas, onde você não escolhe as cartas que são dadas a você, elas apenas lhe são entregues e você joga com elas. Porém nessa linha de pensamento até mesmo o jogo é feito ao acaso.

Contudo, se não aceitarmos que todas nossas escolhas são obras do destino – poderoso e impiedoso – e muito menos que toda a nossa vida é feita totalmente pelo acaso, o que nos sobra? Há outra hipótese que destaca a psique do indivíduo. Suas ações e escolhas são determinadas por algo que há em você, ou seja, suas escolhas detêm uma causa que deriva de uma questão psicológica presente em você. Isso não é uma ameaça ao livre-arbítrio, como costumamos pensar, uma vez que a causa está dentro de você e existe. E não se deriva de uma obra do destino, uma vez que as determinações dos seus comportamentos não provem de algo externo, mas interno e inerente a sua história de vida.

Jung e o controle da alma pelo homem

Jung dizia que o homem em sua natureza acredita ser o controlador de sua própria alma, dentro de si há a concepção de que ele é o dono de si mesmo. Porém, esse mesmo homem está tomado de traumas, vícios, costumes, e tantos outros conteúdos inconscientes que dirigem as tomadas de decisões acerca de sua própria vida. Nós como seres humanos acreditamos piamente em nossa liberdade de escolha – seu livre-arbítrio –, e é essa confiança que não nos permite perceber o quanto esses fenômenos inconscientes exercem poder sobre nossas escolhas. A partir disso, é de suma importância termos o conhecimento tanto do nosso presente quanto do nosso passado – porquanto o inconsciente não possui localização espacial ou tempo determinado –, só assim conseguiremos perceber esses conteúdos da perspectiva correta.

Os fatores inconscientes regem não apenas o indivíduo, mas toda a humanidade. Nosso pensamento ocidental tende a considerar apenas a realidade que é material, contudo isso se configura em um grande erro, uma vez que somos subjugados por um mundo criado pela nossa psique. A realidade que experimentamos é intimamente ligada à nossa realidade psíquica. A psique é um organismo vivo, muito maior que a personalidade e a vontade. É nesse contexto que a fantasia da liberdade absoluta se torna parte do indivíduo. Por exemplo, é comum ouvir-se de qualquer pessoa que ela “possui” alguns costumes e inclinações para tomar certas decisões, no entanto, o certo seria nos referirmos que tais costumes e inclinações possuem a pessoa, uma vez que as escolhas feitas por ele durante toda sua vida são pautadas nesses aspectos inconscientes que o dominam, e a menos que esses aspectos sejam trazidos para a consciência, não é possível ter-se controle sobre eles. Se torna difícil para o ser humano tomar essa realidade para si, uma vez que a fantasia da liberdade e do domínio absoluto é historicamente muito intrínseco ao homem.

Jung afirmou em uma carta que nossas vontades são entendidas como livres até onde a consciência é capaz de conhecer. Portanto onde não há consciência, não pode haver liberdade. E é através da expansão dessa consciência – trazendo aspectos inconscientes para a luz da consciência – que há um aumento dessa liberdade. Ainda assim, não se refere a uma liberdade absoluta, mas uma liberdade expressa em uma possibilidade de ser você mesmo.

O processo de individuação

O processo de individuação – objetivo da análise junguiana – é o processo de torna-se um ser único. Todo indivíduo nasceu com uma potencialidade para a realização de algo, um “vir a ser” pré-programado em nossa estrutura psíquica que pede para ser desenvolvido. Somos portadores de destinos que nos são próprios, e a realização desses destinos nos confere um sentido a nossa própria existência. O processo de individuação é o responsável pelo desenvolvimento dessas potencialidades para a realização do nosso “vir a ser”. É a particularização do indivíduo em relação ao coletivo, a diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual do ser.

É possível afirmar que o processo de individuação pode tornar o homem livre para “vir a ser” sua potencialidade, uma vez que traz para a consciência conceitos que estavam até o momento inconscientes e inclinavam o indivíduo para escolhas especificas em sua vida, tornando-o capaz de fazer escolhas baseadas nas potencialidades inerentes a ele.

Todo o indivíduo é capaz de passar pelo processo de individuação e tornar-se autêntico, e a energia de seu “vir a ser” o dirige continuamente para esse estado. Cabe a nós compreender mais profundamente o que a vida nos propõe realizar e tornar consciente os conteúdos que nos impedem de ir até essa realização. Todo individuo é levado ao processo de individuação, e ao passar por isso nos tornamos livres para sermos aquilo que estávamos destinados a ser. Isso não prediz uma liberdade absoluta, mas prediz uma liberdade plena que nos permite viver a inteireza de nosso ser, e é isso que nos confere um sentido a nossa própria existência.




 
 
 

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